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Hot dog do futuro: USP cria salsicha com extrato de mosca pouco calórico e rico em proteínas

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Alimentos desenvolvidos por pesquisadores da USP, e podem ajudar contra insegurança alimentar

É comum pensar em moscas voando sobre a mesa de jantar, atraídas pela matéria orgânica. Entretanto, pesquisadores de engenharia de alimentos da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um pão e uma salsicha que reposicionam o espaço ocupado por esse tipo de inseto. Matéria-prima para estes alimentos, poderá servir de comida.

Pesquisas conduzidas pelas estudantes de doutorado Vanessa Aparecida Cruz e Letícia Aline Gonçalves, orientadas pelos professores Alessandra Lopes de Oliveira e Marco Antonio Trindade, tinham por objetivo desenvolver alimentos fontes de proteína. A espécie utilizada nos estudos foi a mosca soldado negra (Hermetia illucens).

A junção desses alimentos é o hot dog do futuro, super proteico e que não faz nada mal à saúde
— Alessandra Lopes de Oliveira, professora de Engenharia de Alimentos na USP
Para a produção dos alimentos, os pesquisadores desengorduraram larvas dos insetos para torná-las de baixa caloria. O resultado obtido se assemelha ao de uma farinha. Em seguida, o farelo foi misturado à farinha de trigo, para fazer o pão, e à carne bovina, no caso da salsicha. O material feito das larvas de soldado negra substituíram cerca de 5% da carne bovina, segundo os especialistas.

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Entre os ingredientes da salsicha, os cientistas disseram que constam ainda toucinho, sal, tempero e água, além de aditivos comuns nos modelos tradicionais. Já no pão, foram adicionados também sal e água.

Inseto é fonte de proteína e pode ajudar no combate à insegurança alimentar, no futuro
Trindade explicou que testes preliminares foram realizados antes de os alimentos passarem por uma avaliação de um grupo de voluntários. A salsicha obtida a partir desse processo tem o mesmo valor nutricional que o modelo convencional. A criação dos pesquisadores, no caso, é menos calórica.

O cientista, entretanto, reconhece que pode haver uma certa resistência em relação à comida:

— Países orientais não tem aversão a essas comidas. Já no ocidente, o inseto costuma causar estranheza. A nossa estratégia consiste em fazer alimentos a partir de uma farinha, de comidas bem aceitas na nossa sociedade — argumentou. — Nós temos uma análise de que a salsicha é segura. Temos certeza disso.

A repulsa quanto aos bichinhos pode já estar sendo vencida. Oliveira afirmou que algumas empresas do ramo alimentício já entraram em contato com os pesquisadores para conhecerem a iguaria. Visitas ao laboratório já foram marcadas, inclusive.

Os pesquisadores afirmaram que produção dos alimentos atende uma causa maior: o combate à fome. Segundo os especialistas, há um temor quanto à falta de alimentos, ainda mais considerando a uma possível escassez de alimentação rica em proteínas.

— Atualmente, existe uma preocupação mundial com o crescimento da população, a falta de proteínas e a segurança alimentar, com alimentos que não são saudáveis. Não é porque é salsicha que não é saudável — disse Alessandra Lopes de Oliveira.

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A cientista disse ainda que, em muitos sentidos, a produção alimentícia a partir também das moscas soldado negra é benéfica em razão da não liberação do gás metano, de efeito estufa, como acontece na criação extensiva de gado bovino. Além disso, de acordo com ela, usa-se pouco espaço para produção dos insetos e não são necessários muitos recursos hídricos.

Tendo como base a aprovação do grupo de voluntários, Marco Antonio Trindade afirmou que “o gosto da salsicha não mudou nada do modelo convencional”. Resta saber se as demais moscas continuarão sobrevoando os cachorros-quentes, que poderão ser feitos a partir desses alimentos.

Por Alan Souza*, O Globo

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