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Dólar salta quase 2% e encosta em R$ 4,90. Por que está subindo?

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O dólar voltou a encostar em R$ 4,90 nesta quinta-feira (3), após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cortar a Selic em 0,50 ponto percentual e sinalizar novos cortes desta magnitude. Por que a moeda norte-americana está subindo?

Movimento reflete não só o ambiente doméstico, mas também o cenário externo. Um dos fatores que fazem o dólar subir ou cair é a entrada ou saída de capital estrangeiro no país. E nesta quinta-feira, há um fluxo maior de saídas. “O mercado ainda sofre com o rescaldo do rebaixamento da nota de crédito americana – que em cadeia com a subida de juros no Japão – gerou uma fuga do capital de países emergentes, incluindo aí o Brasil, que ontem também efetuou uma significativa alteração no juros”, diz Fabrizio Velloni, da Frente Corretora.

Moedas de países emergentes registram queda frente ao dólar. Preocupação com o crescimento econômico mundial nos Estados Unidos têm deixado investidores estrangeiros com maior aversão a riscos. Depois que a agência Fitch rebaixou na terça-feira (1º) a nota de crédito dos EUA, se intensificou a alocação de recursos para outros mercados. Um deles é o Japão, que subiu os juros. “Com o rebaixamento da classificação de risco, os mercados aumentaram as apostas em uma manutenção da taxa de juros pelo Banco Central americano na reunião de setembro, reforçando as preocupações com a sustentabilidade das altas recentes das bolsas americanas”, escreveu Antonio Sanches, analista da Rico.

Redução do diferencial de juros entre o Brasil e grandes economias também mexe com mercados. “Tem muito gringo saindo da renda fixa brasileira depois do corte de juros”, diz Leandro Petrokas, diretor de pesquisa da Quantzed, casa de análises.

A proporção do corte da Selic surpreendeu parte dos investidores. “A maior parte do mercado esperava um corte de 0,25 ponto agora e de 0,50 em setembro. Foi bastante. Então, esse corte agressivo mais as incertezas em relação à situação fiscal, que permanecem, deixam o investidor preocupado”, diz Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank.

Com a Selic entrando em trajetória de queda, a aplicação em títulos no Brasil fica menos atrativa. “O mercado já antecipa que parte do capital estrangeiro vai sair, então sai comprando dólar na frente”, afirma Petrokas. O Itaú revisou a sua projeção de taxa Selic ao final do ano para 11,75% e avaliou ainda que” não é possível descartar que ocorra aceleração ao final do ano, ou antes”.

O dólar vai continuar subindo?
Os analistas projetam um câmbio em R$ 4,91 no final de 2023, segundo dados da última pesquisa Focus do Banco Central. O dólar atingiu a cotação mais baixa do ano em 31 de julho, quando fechou a R$ 4,72. “Na minha projeção ele retorna para as proximidades de R$ 4,80”, diz Velloni, da Frente Corretora.

A queda nos juros também atrai mais investidores para a Bolsa de Valores brasileira. Isso pode ajudar o real a se valorizar. Mas enquanto o Brasil caminha para um ciclo de queda da Selic, outros países continuam elevando seus juros, o que limita o fluxo de capital estrangeiro para o mercado brasileiro.

Situação fiscal do governo ainda é apontada como fator de cautela. Isso também limita a vinda de dólares para o Brasil. Por isso, na somatória das duas forças, os analistas não enxergam muito espaço nem para um grande salto nem um retorno tão cedo para os patamares registrados no final de julho. Bernardo Brites, presidente da Trace Finance, que opera com câmbio para startups brasileiras, acredita que a cotação deva ficar em R$ 5.

Na quarta-feira (2), o dólar comercial encerrou o dia em alta de 0,33%, cotado a R$ 4,806.

Por Lílian Cunha Colaboração para o UOL