Conecte-se conosco

Outras

Presidente do Banco Central diz que estuda o fim do crédito rotativo do cartão; taxas chegam a 473%

Publicado

em

Em julho, as instituições financeiras chegam a cobrar taxas de 437,3% ao ano, caso o valor total da fatura não seja pago

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (10) que estuda acabar com o crédito rotativo do cartão, que é um tipo de empréstimo oferecido aos clientes de cartão de crédito que não conseguem pagar o valor total da fatura até o vencimento. Segundo ele, a alternativa está em fase de construção e deve ser apresentada em 90 dias. A declaração foi feita no Senado, onde Campos dá explicações sobre as decisões tomadas pela autarquia no primeiro semestre do ano.

Campos Neto afirmou que os juros rotativos do cartão de crédito são “um grande problema” e ressaltou que a ideia é que o crédito seja direcionado diretamente para um parcelamento da dívida com taxa de juros menor, em torno de 9% ao mês. Em julho, as instituições financeiras chegam a cobrar taxas de 437,3% ao ano, caso o titular do cartão não pague o valor total da fatura.

“A solução está se encaminhando para que não tenha mais rotativo, que o crédito vá direto para o parcelamento. Que seja uma taxa ao redor de 9% [ao mês]. Você extingue o rotativo. Quem não paga o cartão vai direto para o parcelamento ao redor de 9% [ao mês]”, declarou Campos Neto.

Ele também disse que está sendo estudada a possibilidade da criação de uma tarifa para desestimular o parcelamento sem juros de longo prazo no cartão de crédito. “Não é proibir o parcelamento sem juros, é simplesmente tentar fazer com que ele fique um pouco mais disciplinado”, comentou. Atualmente, as compras com cartão de crédito respondem por 40% do consumo brasileiro.

Taxa de juros
Roberto Campos Neto reconheceu que a taxa básica de juros (Selic) no Brasil é alta, se comparada com a de outros países da América Latina. No entanto, ressaltou que a diferença tem caído nos últimos anos.

“Tivemos momentos em que a taxa de juros real do Brasil era muito mais alta do que a de outros países. Vejo que tem um clamor muito grande hoje, com razão, que é a taxa de juros muito alta, mas se a gente olhar o passado ela já foi muito mais alta”, comentou.

Ele apresentou um gráfico que mostra a queda das médias de juros no Brasil, em comparação com as de outros países da América Latina. Segundo o presidente do BC, os juros no Brasil ficaram 3,6% acima da média entre 2014 e 2019. De 2021 a 2023, 2,9% acima da média; e em julho de 2023, os juros brasileiros foram registrados em 2% acima da média.


Em seguida, ele explicou que o Brasil tem juros altos por causa da baixa taxa de recuperação de crédito, da baixa taxa de poupança e do volume da dívida do Brasil com o Fundo Monetário Internacional (FMI), por exemplo.

Em 2 de agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou a redução de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic, que passou de 13,75% para 13,25% ao ano. A redução, a primeira em cerca de três anos, foi acordada depois de críticas do presidente Lula, de parlamentares e de representantes de setores produtivos.

‘Pouso suave da inflação’
Campos Neto também afirmou que pretende fazer um “pouso suave” para baixar a inflação. “Se a gente comparar o que caiu com a inflação no Brasil, proporcional ao que gerou ou ao que aconteceu no emprego, e o que aconteceu com o crescimento econômico, a gente tem dificuldade de achar um outro país no mundo que tenha conseguido reduzir a inflação nessa mesma proporção, quase sem alteração no crescimento e com geração de emprego no mesmo período”, disse.

Ele também apresentou um estudo que mostra a relação entre a inflação e a autonomia do Banco Central. Segundo ele, “a inflação média cai à medida que a autonomia cresce, e a variância de inflação também cai quando a autonomia é maior”.

Aumento da nota de crédito do Brasil
O presidente do BC comentou ainda que o aumento da nota de crédito do Brasil por agências de classificação de risco reflete, em parte, o trabalho desenvolvido pelo Banco Central. Em julho, a agência de classificação de risco Fitch elevou a nota de crédito de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil para BB, frente ao BB- registrado antes, com perspectiva estável.

“Vejo muita comemoração pela melhora nas notas do Brasil. Todos mencionam a autonomia do BC e a política de juros do BC como um fator decisivo. A Moody’s mencionou, a S&P mencionou e a Fitch mencionou”, disse.

“A autonomia do BC e essa capacidade do BC de gerir a crise de forma autônoma e técnica têm mostrado grandes frutos. Por trás de cada comemoração, tem sempre um pedaço do BC. Eu gostaria que isso não fosse esquecido”, completou Campos Neto.

Por Hellen Leite, do R7