Política
‘Não pedi, nem recebi’: 4 contradições de Bolsonaro no caso das joias
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sempre negou qualquer irregularidade envolvendo joias e outros bens de valor presenteados por países estrangeiros ao Brasil. No entanto, investigações da Polícia Federal põem em xeque as declarações de Bolsonaro.
‘Não pedi, nem recebi’
Após a revelação de que o governo Bolsonaro tentou trazer para o Brasil, de forma ilegal, um conjunto de colar e brincos avaliado em 3 milhões de euros (cerca de R$ 16,1 milhões), o ex-presidente disse à CNN Brasil que “não pediu, nem recebeu” qualquer presente.
As joias estavam com um assessor de um ministro de Bolsonaro e foram retidas pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos. Em seguida, o governo fez tentativas de recuperar as joias da Receita.
Quatro dias depois de dizer que não recebeu nenhum presente, porém, Bolsonaro confirmou ter recebido outro pacote de joias: um estojo com uma caneta, um anel, um relógio, um par de abotoaduras e um rosário islâmico.
Estou sendo acusado de um presente que eu não pedi, nem recebi. Não existe qualquer ilegalidade da minha parte. Nunca pratiquei ilegalidade.
Jair Bolsonaro, em 4 de março
Não teve nenhuma ilegalidade [relacionada ao estojo incorporado ao seu acervo pessoal]. Segui a lei, como sempre fiz.
Jair Bolsonaro, em 8 de março
Devolução das joias
Logo após o caso do colar e dos brincos vir à tona, o TCU (Tribunal de Contas da União) determinou que o segundo pacote de joias presenteadas pela Arábia Saudita fosse devolvido à Presidência.
Antes disso, a defesa do ex-presidente já havia se oferecido para fazer a devolução, dizendo que Bolsonaro “em momento algum pretendeu locupletar-se ou ter para si bens que pudessem, de qualquer forma, serem havidos como públicos”.
Mas as investigações da PF indicam que as joias chegaram a ser colocadas à venda em um leilão, em fevereiro deste ano. O valor estimado era entre US$ 120 mil e US$ 140 mil (cerca de R$ 600 mil). Mas não houve comprador. Em março, auxiliares de Bolsonaro precisaram fazer uma operação para recuperar os presentes, que seguiam na empresa de leilão.
Além disso, havia outros presentes que o TCU desconhecia. Um deles era um relógio de luxo, que chegou a ser vendido nos EUA em 2021, segundo a investigação da PF. Nesse caso, auxiliares de Bolsonaro colocaram em prática uma operação sigilosa de recompra do bem para devolução ao Brasil.
O advogado Frederick Wassef, que já defendeu o ex-presidente, participou dessa operação, segundo a PF. Foi até os EUA para recomprar o relógio e voltou ao Brasil com ele, entregando em seguida para Mauro Cid. Depois, o objeto foi devolvido, como se nunca tivesse saído do país ou sido vendido.
‘Nada foi escondido’
Em março, quando regressou ao Brasil após um período nos EUA, Bolsonaro disse que os presentes não estavam “escondidos”. “Se houvesse má-fé por parte de alguém, não teria sido cadastrado [nos arquivos brasileiros]”, disse o ex-presidente no Aeroporto de Orlando.
Mas o ex-presidente não mencionou que pessoas próximas tenham tentado entrar com as joias no Brasil sem declará-las, como manda a lei. Muito menos que algumas peças foram remetidas ilegamente para os EUA, onde foram negociadas.
Não sei por que esse escândalo todo. Vamos em frente. Nada foi extraviado, nada sumiu. Nada foi escondido. Ninguém vendeu nada. Acho que a questão desses três pacotes [de joias] está resolvida. Se eu tivesse pegado escondido, ninguém teria conhecimento.
Jair Bolsonaro, em 29 de março
‘Vexame diplomático’
Em abril, Bolsonaro disse à PF que soube das joias apreendidas no Aeroporto de Guarulhos apenas em dezembro de 2022, quatorze meses depois do ocorrido.
O ex-presidente afirmou ainda que, naquele mês, buscou informações sobre o caso para evitar um “constrangimento internacional” e um “vexame diplomático” caso os presentes fossem a leilão.
Mas houve tentativas do gabinete presidencial de reaver as joias antes de dezembro de 2022, segundo revelou o jornal O Estado de S. Paulo. O governo teria buscado ao menos oito vezes convencer os funcionários da alfândega a liberarem os pacotes.
Por Anaís Motta Do UOL