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Policial

O último bloco da noite

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Foto: Júnior Moura

Quando a multidão se dispersa e as ruas se esvaziam, restam confetes pelo chão, misturados às latas amassadas e ao lixo acumulado nas sarjetas. Mas um último bloco permanece. Com olhares atentos, botas empoeiradas e uniformes suados, os policiais militares seguem firmes. Sem seu trabalho, muitas vezes invisível, o Carnaval não seria a festa segura e alegre que todos conhecem. Enquanto os foliões guardam suas fantasias e lembranças, eles iniciam a transição do caos para o vazio das ruas e já preparam o psicológico para o próximo dia de folia.

O maior evento popular do Brasil transforma cidades inteiras em palcos de extravagâncias, une pessoas de todas as classes e culturas, e faz o país vibrar em um ritmo próprio. Mas, por trás da euforia, há um outro lado que poucos enxergam. No embalo da festa, crimes acontecem sem que a maioria dos foliões sequer note: furtos, golpes, tráfico de drogas, exploração de trabalhadores informais, violência de gênero e até crimes cibernéticos. Para quem vive do crime, o Carnaval é uma oportunidade de lucro. E é aí que entra o trabalho da polícia.

Fotos: Júnior Moura

O aumento expressivo do tráfico de drogas, da prostituição e do comércio ilegal exige uma resposta rápida e eficiente. Para conter essa economia paralela, a segurança pública aposta em estratégias que vão da repressão direta à prevenção. Um outro exemplo é a luta contra a violência de gênero, que aumenta consideravelmente durante a festa. Assédio, abuso e exploração sexual costumam ser banalizados em meio à folia. Para combater esse problema, a polícia investe, principalmente, em ações de conscientização. Mas é suficiente?

Em meio à euforia coletiva, a criminalidade opera de maneira sutil. Identificar furtos, golpes e outros crimes é um desafio imenso. Apesar do olhar treinado dos policiais, identificar gestos, olhares furtivos, posturas e movimentos suspeitos, que normalmente entregam intenções ocultas, não parece uma tarefa fácil. Um indivíduo que toca repetidamente os outros sem motivo pode estar tentando furtar um celular. Alguém que evita contato visual e esconde as mãos pode estar armado ou carregando drogas. Essa leitura corporal, aperfeiçoada com anos de experiência e capacitação, é fundamental para a prevenção.

Fotos: Júnior Moura

Mas quem percebe tudo isso? No fim da noite, eufóricos e anestesiados pela diversão, poucos olham para trás e notam os profissionais fardados que garantiram sua segurança. Quantos se lembram de que, graças a esses policiais, podem voltar para casa com seus pertences e integridade preservados?

Nesse momento, a transição entre o caos e o vazio das ruas não é apenas física, mas também psicológica. Enquanto os foliões deixam para trás apenas lembranças de diversão, o último bloco fica. No dia seguinte, quando o Carnaval ganhar vida outra vez, eles estarão lá. Prontos para mais um trampo. Prontos para manter a festa no ritmo certo, apesar da criminalidade que insiste em se esconder sob as máscaras da folia.

 

Por Joabes Guedes

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