Política
Idosa de 73 anos que realizou sonho ao finalizar ensino médio por meio da Educação de Jovens e Adultos começa curso de informática
Curso de informática avançado, artes cênicas e tudo o mais que puder encaixar na sua rotina. Essa é uma parte dos planos de Maria Eliete Farias da Cruz, de 73 anos, após terminar o ensino médio por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em julho. Mãe de seis filhos, avó e bisavó, ela conta que havia parado os estudos logo após se casar. É a educação pública mudando a vida das pessoas e proporcionando oportunidades.
“Eu já sabia ler e escrever, mas, por exemplo, minha caligrafia e em algumas matérias eu era muito ruim. Então, concluí agora esse sonho de terminar o ensino médio e não penso em parar. Quero aprender cada vez mais, fazer artes, ciências”, revela.
O sonho desse curso é porque ela se identifica com ele e já faz alguns vídeos para a rede social ao lado do filho. Inclusive, diz que a família é a grande incentivadora dos seus sonhos: “Toda a minha família me dá apoio em tudo o que faço, e isso é muito bom”.
E os sonhos estão caminhando. Desde que terminou o ensino médio, ela tem trilhado alguns caminhos. Tentou se inscrever no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para entrar em um curso no ensino superior, mas diz não ter conseguido. “Eu tentei, mas vi que primeiro precisava de um curso básico de informática antes de ir para a faculdade. Estou há um mês fazendo, sinto dificuldade, mas sei que vai melhorar e depois clarear mais, mas é bem difícil esse começo, porque o computador é diferente demais do celular”, conta.
O curso que ela faz é no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e, apesar da dificuldade que tem sentido em entender o sistema do computador, ela permanece firme no propósito de, assim que terminar o nível básico, avançar e conseguir iniciar o curso superior.
Avanço na educação
Divulgados em maio, dados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que o Acre avançou na alfabetização e reduziu o índice de pessoas que não sabem ler.
Dentro da Secretaria de Educação existe a modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA). O número de alunos matriculados na EJA pode variar anualmente, segundo Jessé Dantas, chefe do departamento do programa. No ano de 2023, foram atendidos pela rede pública estadual 5.475 alunos no 1º Segmento – Anos Iniciais; 1.744 alunos no 2º Segmento – Anos Finais; e 7.277 alunos no 3º Segmento – Ensino Médio, totalizando 14.496 alunos matriculados. Essas vagas foram ofertadas em 116 escolas, com um total de 613 turmas, além de atender 7 unidades prisionais.
“Nos últimos anos houve esforços para ampliar a oferta e melhorar a qualidade da educação ofertada. Dessa forma, foram destinados recursos para a construção de novas escolas, ampliação da quantidade de turmas, compra de materiais didáticos, alimentação escolar de qualidade, com a inclusão do prato extra, ampla divulgação de matrículas, formação continuada dos profissionais que atuam na modalidade, além da parceria com o Ifac [Instituto Federal do Acre] para a oferta do curso de Pós-Graduação em Educação de Jovens e Adultos Integrada à Educação Profissional e Tecnológica”, destaca Dantas.
As aulas, nessa modalidade, ocorrem de forma presencial, conforme dispõe a legislação vigente. Quanto à carga horária e tempo de conclusão na EJA, são divididos por segmento. O primeiro apresenta duas etapas de 400 h e pode ser concluído em 1 ano.
O esforço de uma equipe é reconhecido por quem é beneficiado pelo programa. Para Eliete, o programa contempla tudo o que se propõe fazer, sendo uma educação sensível e humanizada.
“A professora explica muito bem. Não porque é um programa diferenciado que as pessoas ensinam de qualquer jeito, pelo contrário, a gente é muito bem acolhido e consegue aprender tudo. Inclusive, vou sentir muita saudade de frequentar o centro, mas não vou deixar de ir lá, só que agora vou só visitar”, conta bem humorada.
Inspiradora
O sonho de também concluir o ensino superior está latente e, para quem acha que a idade impõe algum limite, ela deixa um recado: “Nunca é tarde. Me casei e parei no tempo quando deixei os estudos de lado, mas, agora, eu não me sinto incapaz de realizar meus sonhos. Não me acho uma velha incapaz, pelo contrário, me sinto jovem e muito capaz”, enfatiza.
Como uma das mais experientes entre os colegas de sala, ela fazia questão de dar conselhos e incentivar os mais jovens a estudarem e apostarem no melhor caminho para mudar de vida: a educação.
Para os filhos, o sentimento é de muito orgulho. Daniel Cruz, fotógrafo, usou seu espaço nas redes sociais, com mais de 87,2 mil seguidores, e publicou uma carta aberta à mãe.
“Sua história é um testemunho vivo de que nunca é tarde para perseguir nossos sonhos e que a educação não tem idade. Cada página virada, cada lição aprendida e cada obstáculo superado foram prova do seu espírito incansável e da sua paixão pela vida. Você mostrou que a força de vontade pode romper qualquer barreira, e que a busca pelo aprendizado é uma aventura para toda a vida”, escreveu.
O filho disse, ainda, que a divulgação da história de Eliete tem o objetivo de gerar uma corrente do bem e fazer com que outras pessoas se inspirem e corram atrás de seus sonhos.
“Estamos imensamente orgulhosos de você e inspirados pela sua determinação. Sua conquista não é apenas um diploma, mas um símbolo de resiliência e inspiração para todos os que têm o privilégio de conhecê-la. Sua formatura é apenas o começo de uma nova fase repleta de realizações e felicidade. Celebramos sua vitória hoje e sempre”, finalizou.
Por Tácita Muniz- Agência de Notícias do Acre