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Cientistas descobrem um ‘terceiro estado’ que vai além da vida e da morte

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No campo da biologia, a linha entre a vida e a morte há muito tempo é considerada uma demarcação clara. No entanto, descobertas científicas recentes estão desafiando essa noção, revelando um fascinante “terceiro estado” que obscurece os limites do nosso entendimento. Este campo emergente de estudo explora como certas células podem continuar a funcionar e até mesmo se transformar em novas entidades multicelulares após a morte de um organismo.

A Persistência da Função Celular
Quando pensamos na morte, muitas vezes imaginamos uma cessação completa de todos os processos biológicos. No entanto, a realidade é muito mais complexa. Mesmo após um organismo ser declarado morto, várias células e tecidos podem continuar a funcionar por períodos surpreendentes. Essa resiliência celular varia amplamente dependendo do tipo de célula e das condições em que ela se encontra.

Por exemplo, leucócitos humanos podem permanecer viáveis por até 86 horas após a morte, enquanto certas células musculares em camundongos foram regeneradas com sucesso duas semanas após a morte. Talvez ainda mais notavelmente, os pesquisadores conseguiram cultivar células fibroblásticas de ovelhas e cabras quase um mês após a morte dos animais.

Os fatores que influenciam essa sobrevivência celular pós-morte são numerosos e complexos. Condições ambientais desempenham um papel crucial, assim como a atividade metabólica das próprias células. Técnicas de preservação, como a criopreservação, também podem estender a viabilidade de certos tecidos, permitindo que funcionem de forma semelhante aos de doadores vivos.

De Células a Novos Organismos
Enquanto a persistência da função celular após a morte é intrigante por si só, a verdadeira maravilha reside na capacidade de algumas células se transformarem em entidades multicelulares completamente novas. Este fenômeno foi observado em vários estudos inovadores, ampliando os limites do que pensávamos ser possível na biologia celular.

Um dos exemplos mais impressionantes dessa transformação é a criação de xenobots. Essas pequenas máquinas vivas são derivadas de células da pele extraídas de embriões de rãs falecidas. Quando colocadas em um ambiente de laboratório, essas células se reorganizam espontaneamente em organismos multicelulares com capacidades completamente novas. Xenobots podem se mover, se curar e até mesmo replicar sua estrutura e função sem crescer – um processo conhecido como autorreplicação cinemática.

De maneira semelhante, pesquisadores descobriram que células isoladas dos pulmões humanos podem se auto-organizar em miniaturas de organismos multicelulares chamados antropobôs. Essas entidades não apenas navegam em seus arredores, mas também demonstram a capacidade de se reparar e até ajudar na cura de células neuronais lesionadas colocadas próximas.

As Implicações do “Terceiro Estado”
A existência desse “terceiro estado” – onde as células podem continuar a funcionar e se transformar após a morte de um organismo – tem profundas implicações para nossa compreensão da biologia e para as potenciais aplicações na medicina.

Do ponto de vista teórico, esse fenômeno desafia nossas visões convencionais sobre a natureza da vida e da morte. Sugere que a morte de organismos pode desempenhar um papel significativo em como a vida se transforma ao longo do tempo, introduzindo novas possibilidades para evolução e adaptação que não havíamos considerado anteriormente.

No campo das aplicações práticas, o potencial é igualmente emocionante. Antropobôs, por exemplo, poderiam ser desenvolvidos a partir do próprio tecido de um indivíduo para entregar medicamentos direcionados dentro do corpo sem desencadear uma resposta imunológica. Essas entidades microscópicas poderiam potencialmente ser projetadas para realizar tarefas como dissolver placas arteriais em pacientes com aterosclerose ou remover o excesso de muco em pessoas que sofrem de fibrose cística.

Importante, esses novos organismos multicelulares têm um mecanismo de segurança embutido. Eles têm uma vida útil finita, degradando-se naturalmente após quatro a seis semanas. Esse “interruptor de desligamento” previne o crescimento descontrolado de células potencialmente invasivas, abordando uma preocupação chave no desenvolvimento de tais tecnologias.

À medida que a pesquisa nesse campo avança, podemos nos encontrar à beira de uma nova era na medicina personalizada e preventiva. A capacidade de aproveitar e direcionar o potencial transformador das células pode abrir novas opções de tratamento para uma ampla gama de condições, oferecendo esperança a pacientes que atualmente têm opções terapêuticas limitadas.

por Lucas Rabello