Política
Brasil tenta evitar tarifa dos EUA que pode causar perdas bilionárias e desemprego

A Embaixada do Brasil em Washington encaminhou nesta quarta-feira (16) um ofício ao governo dos Estados Unidos solicitando a reabertura do diálogo técnico sobre as tarifas de 50% que devem ser aplicadas às exportações brasileiras a partir de 1º de agosto. O documento é assinado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
No mesmo dia, Alckmin conduziu uma segunda rodada de reuniões com representantes da indústria nacional para discutir os efeitos da medida. Segundo ele, o Brasil irá apresentar aos EUA argumentos em resposta aos pontos da investigação comercial iniciada ainda no governo Donald Trump, que acusa o país de práticas desleais. A apuração está sendo conduzida pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR).
Na terça-feira (15), a U.S. Chamber of Commerce e a Amcham Brasil emitiram um comunicado conjunto pedindo ao governo americano a suspensão das tarifas. As entidades sugerem que os dois países iniciem negociações de alto nível, alertando que a medida pode causar sérios prejuízos à relação bilateral e ao consumidor.
As organizações destacam que mais de 6,5 mil pequenas empresas americanas dependem de produtos brasileiros e que 3,9 mil companhias dos EUA possuem investimentos no Brasil. Além disso, o Brasil figura entre os dez maiores destinos de exportações americanas, movimentando cerca de 60 bilhões anuais em bens e serviços.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o posicionamento das entidades empresariais dos EUA é um apoio crucial. Segundo o presidente da CNI, Ricardo Alban, contar com a manifestação de líderes empresariais norte-americanos reforça a posição brasileira nas negociações e evidencia os danos que a medida pode causar aos dois lados.
Alban ressalta que, caso entre em vigor, a tarifa poderá provocar a perda de mais de 110 mil empregos na indústria brasileira e comprometer cadeias produtivas e empresas dos EUA que dependem de insumos do Brasil. Ele também defende uma abordagem diplomática e técnica nas tratativas, sugerindo que os EUA revoguem ou, ao menos, adiem a cobrança por 90 dias para permitir uma discussão mais equilibrada.
Um levantamento da CNI aponta que os próprios Estados Unidos seriam os mais afetados pelo aumento de tarifas. Estimativas da UFMG indicam que o PIB americano pode cair 0,37% devido às novas taxações sobre Brasil, China e outros países, além de tarifas sobre aço e automóveis. O impacto no Brasil e na China seria de 0,16% do PIB de cada, enquanto o PIB global pode recuar 0,12% e o comércio mundial pode encolher 2,1% — cerca de 483 bilhões.
Por Ronaldo Duarte