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O papel das redes sociais na Segurança Pública

As redes sociais transformaram a maneira como nos comunicamos, influenciando desde interações cotidianas até temas de grande relevância social, como a Segurança Pública. Com um simples smartphone e acesso à internet, qualquer pessoa pode compartilhar informações, expressar opiniões e, muitas vezes, moldar a percepção sobre o trabalho das forças policiais. Mas será que essa liberdade vem acompanhada de responsabilidade?
A disseminação de notícias falsas, a manipulação de imagens e narrativas distorcidas colocam em xeque a credibilidade das instituições de segurança. Casos de fake news sobre abordagens policiais ou crimes de grande repercussão se tornaram comuns, gerando desconfiança e dificultando a atuação das polícias. Diante desse cenário, surge uma pergunta crucial: as redes sociais são aliadas ou inimigas da Segurança Pública? A resposta não é simples, e exige uma análise cuidadosa dos benefícios e desafios que essas plataformas trazem.
Por um lado, as redes sociais se tornaram ferramentas essenciais para modernizar a Segurança Pública. Quando usadas de forma estratégica, elas aproximam as instituições policiais da população, aumentam a transparência e contribuem para a prevenção e o combate ao crime. A comunicação direta com a sociedade ajuda a reduzir boatos e fortalece a confiança pública. Perfis oficiais de polícias, por exemplo, ao divulgarem operações, campanhas preventivas e orientações de segurança, combatem a desinformação de maneira ágil e eficiente.
O sociólogo espanhol Manuel Castells, em sua teoria da sociedade em rede, destaca que a conectividade digital permite um maior controle social sobre as instituições públicas, tornando-as mais transparentes e acessíveis. No contexto da Segurança Pública, isso significa que a polícia pode informar diretamente a população, sem intermediários que possam distorcer os fatos. Além disso, as redes sociais têm se mostrado aliadas em investigações. Criminosos frequentemente deixam rastros digitais que podem ser usados contra eles. Há diversos casos em que suspeitos foram identificados e presos após publicarem fotos ostentando armas, dinheiro ou até mesmo detalhando crimes cometidos.
A teoria do habitus, de um dos maiores pensadores do século XX, Pierre Bourdieu, ajuda a entender esse comportamento. Segundo ele, as pessoas agem de acordo com padrões internalizados pelo meio em que vivem. No mundo do crime organizado, a busca por status leva muitos criminosos a se exporem nas redes, o que facilita o trabalho da polícia.
No entanto, se por um lado as redes sociais podem ser aliadas, por outro, seu uso irresponsável pode comprometer operações, expor profissionais e gerar crises institucionais. A disseminação de informações falsas é um dos maiores desafios. Notícias não verificadas sobre crimes, vídeos editados de abordagens policiais e boatos sobre operações podem gerar pânico, minar a confiança na polícia e dificultar investigações. Zygmunt Bauman, ao discutir a modernidade líquida, alerta que, na era digital, a verdade se tornou fluida e manipulável. Quando falamos de Segurança Pública, isso significa que falsas narrativas podem se espalhar mais rápido do que as correções oficiais, criando cenários de desordem e instabilidade.
Outro problema grave é o vazamento de informações sobre operações policiais. Muitas blitzes, por exemplo, são divulgadas em tempo real por usuários, alertando criminosos e reduzindo a eficácia da ação. Como consequência, armas e criminosos que poderiam ser retirados de circulação continuam nas ruas.
Além disso, o consumo desenfreado de conteúdos violentos pode banalizar a violência, estimular o medo e até fortalecer discursos de apologia ao crime. Isso nos leva a uma reflexão ética: até que ponto a divulgação de cenas violentas contribui para a conscientização, e quando se transforma em um espetáculo mórbido que somente reforça a sensação de insegurança?
Então, qual é a conclusão que podemos tirar? As redes sociais são uma realidade irreversível, e seu impacto na Segurança Pública depende do uso que fazemos delas. O grande desafio é equilibrar os benefícios e os riscos dessas plataformas. Para isso, é fundamental investir em estratégias de comunicação digital, capacitar os profissionais para lidar com a nova dinâmica da informação e conscientizar a sociedade sobre o papel das redes na construção coletiva da Segurança Pública.
Como bem sabemos, a informação é poder. Na Segurança Pública, a forma como ela é tratada define se as redes sociais serão aliadas ou obstáculos no combate à criminalidade. O desafio está posto. Cabe a todos nós, ao Estado, aos profissionais da segurança e aos cidadãos, decidir como utilizá-las da melhor forma.
Por Joabes Guedes